http://veja.abril.com.br/noticia/saude/novos-testes-de-sangue-podem-revolucionar-diagnosticos-e-a-cura
Na semana passada, a ciência se aproximou da detecção do Alzheimer e do câncer por meio de exames de sangue. O avanço na compreensão dos biomarcadores permite que uma gota da substância que percorre nossas veias se torne uma fonte inesgotável de informações sobre o corpo humano
Marco Túlio Pires
No futuro, novos exames de sangue poderão ajudar no tratamento de várias doenças (Comstock Images)
Os novos exames de sangue podem substituir ou evitar que procedimentos dolorosos e invasivos, como as biópsias, sejam realizados sem necessidade
Doenças antes indetectáveis por meio de exames, como o Alzheimer e o autismo, em breve estarão ao alcance de uma gota de sangue
Qualquer pessoa que já tenha se submetido a um check-up comum sabe da riqueza de informações que um exame de sangue fornece aos médicos. Uma amostra ínfima dos cerca de 5 litros de sangue que, em média, circulam pelo corpo de um adulto, revela a invasão do organismo por parasitas, vírus e bactérias, a carência de nutrientes essenciais ao funcionamento dos órgãos ou a presença de substâncias que podem prejudicá-los. Na semana passada, duas notícias serviram de lembrete para um fato extremamente positivo: a ciência do sangue continua a progredir em grande velocidade, e oferece possibilidades extraordniárias de diagnóstico e monitoramento.
Como mostra o quadro abaixo, a detecção de doenças que antes requeriam procedimentos muito mais complicados e invasivos já pode, em diversos casos, ser feita por meio desse exame indolor (está bem, "agulhofóbicos": quase indolor). Novas técnicas deixarão em breve de ser experimentais e chegarão aos hospitais e laboratórios.
A primeira novidade ligada aos exames de sangue veio na última segunda-feira, quando pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts, nos Estados Unidos, firmaram uma parceria de 30 milhões de dólares com a empresa Johnson & Johnson para viabilizar um teste capaz de detectar uma célula cancerígena entre bilhões de outras saudáveis. A segunda notícia, divulgada na sexta-feira, foi a de que cientistas do Instituto de Pesquisa Scripps, na Flórida (EUA), desenvolveram um teste capaz de detectar com precisão o Alzheimer. Atualmente, a doença só é detectada quando o paciente apresenta sintomas, e mesmo assim só é possível confirmá-la após análise do cérebro depois da morte.
Substância dedo-duro — Esta nova geração de exames surgiu na esteira do sequenciamento do genoma humano, em 2000, e do aparecimento de novas técnicas de análise de substâncias químicas, a partir de 2005, que permitiram que os médicos acelerassem a complicada tarefa de vasculhar o sangue atrás de substâncias conhecidas como biomarcadores.
Os biomarcadores são, em geral, proteínas específicas que o corpo produz por causa de alguma doença. Em alguns casos, o biomarcador pode ser uma célula ou um fragmento do material genético do paciente.
"A busca por biomarcadores ocorre há pelo menos 30 anos, mas sempre foi uma tarefa muito difícil. A tecnologia deixou esse processo menos complicado, possibilitando o surgimento de novos exames", diz o médico americano Robert Christenson, diretor do laboratório de biomarcadores da Universidade de Maryland (EUA).
Mirian Silva
Rede de pesca — Para saber se o paciente está doente, os cientistas misturam o sangue com uma substância química que só reage ao entrar em contato com o biomarcador da doença que estão examinando. É como uma rede de pesca que só aprisionasse um tipo específico de peixe. Caso o peixe — o biomarcador — fique preso, quer dizer que o paciente tem a doença.
Um dos biomarcadores mais assediados pelos médicos são os anticorpos, substância formada por proteínas e produzida pelo sistema imunológico para combater organismos invasores ou células cancerígenas. Se o corpo está doente, ele provavelmente irá produzi-los.
Cientistas do mundo todo estão procurando por esses "peixes". Um deles foi encontrado em 2007 pela médica americana Mary Whooley, da Universidade da Califórnia (EUA). A equipe da pesquisadora conseguiu identificar um tipo específico de proteína que passava a ser liberada em pacientes que já haviam sofrido ataque cardíaco quando estavam sob stress. O exame desenvolvido é capaz de prever o risco do paciente sofrer novo ataque. “A vantagem é que, para monitorarmos a doença, não precisamos colocar um pedaço de metal dentro do paciente ou submetê-lo à radiação”, afirma Whooley.
DNA — O oncologista romeno Victor Velculescu, da Universidade Johns Hopkins (EUA), publicou no início de 2010 um estudo dizendo que o material genético das células cancerígenas possui padrões de DNA específicos. “Muitas vezes, esse material é arremessado na corrente sanguínea tornando possível identificar o câncer mesmo quando não se consegue pelas vias normais”, explica Velculescu. “Esperamos que em cinco anos o exame esteja disponível para os pacientes”, diz.
Até a identificação de doenças de difícil diagnóstico, como o autismo, poderá ser facilitada com os exame de sangue em um futuro próximo. O médico britânico Anthony Monaco, chefe do laboratório de neurogenética da Universidade de Oxford, conseguiu encontrar uma relação entre o DNA e o autismo. De acordo com Monaco, existe uma diferença marcante entre o material genético de pessoas saudáveis e as que manifestam o problema. Nas doentes, alguns pedaços de DNA são duplicados ou apagados, alterando o comportamento de alguns genes, o que contribui para a manifestação do autismo. “Quanto mais cedo conseguirmos identificar que uma pessoa possui autismo, melhores serão as condições de tratamento e entendimento da doença”. O médico acredita que em três anos será possível ter um exame confiável que ajudará no diagnóstico.
Cura - Muitos médicos acreditam que os novos exames de sangue podem, ao menos indiretamente, encurtar o caminho para a cura de várias doenças. “As pesquisas que buscam entender o sangue e os biomarcadores nos dão condições de aprender mais sobre as doenças”, diz Christenson. Além disso, os exames de sangue ajudam a monitorar a evolução das doenças, acrescenta Velculescu. “Isso é muito importante para descobrir tratamentos que levam à cura”, completa.
Em geral, afirma a médica Lecia Sequist, da escola de medicina de Harvard — uma das pesquisadoras envolvidas com o dispositivo que detecta células cancerígenas —, as novas pesquisas também estão tentando entender a genética humana. “Quais seriam os genes das doenças?”, pergunta a médica. “Poderemos aprender sobre a predisposição genética das pessoas por meio dos exame de sangue. Estamos apenas no início, ainda temos muito a aprender.”
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Livro traça a história milenar do câncer - e da guerra contra ele
Livro traça a história milenar do câncer - e da guerra contra ele
Considerado um dos melhores livros de 2010 na Inglaterra e nos Estados Unidos, 'O Imperador de Todos os Males' mostra por que a doença se tornou a mais emblemática dos nossos temposAretha Yarak
Inédito: o oncologista Siddhartha Mukherjee é o autor do primeiro livro com a biografia do câncer (Deborah Feingold)
"Para muitos tipos, provavelmente, não vai ser possível encontrar a cura, o que pode ser uma grande frustração para os que fazem disso uma obsessão. Mas, para diversos outros tipos, será possível encontrar meios de tratamento que tornem a doença em um mal crônico, prolongando a vida do paciente em muitos anos."
Em 2005, uma paciente com câncer no estômago perguntou ao médico Siddhartha Mukherjee, então residente em oncologia, qual era a origem e qual seria a evolução da doença. A questão deixou o jovem médico desconcertado. "Percebi que não tínhamos nada na literatura que esclarecesse adequadamente o contexto histórico do câncer", relembra Mukherjee, de 40 anos, indiano nascido em Nova Déli que mantém um ar de ator de Bollywood, a indústria de cinema indiana. A conversa com a paciente (ele não revela que destino ela teve) foi a principal inspiração para a criação do livro The Emperor of All Maladies (O Imperador de Todos os Males), que será lançado no Brasil em agosto, pela editora Companhia das Letras - depois de ser considerado um dos melhores lançamentos de 2010 nos Estados Unidos e na Inglaterra.
Em quase 500 páginas, Mukherjee, agora oncologista da respeitada Universidade de Columbia, traça o que ele chama de biografia da doença. Do período em que o câncer ainda não era conhecido como tal, surgem as figuras de Imhotep, Hipócrates e Heródoto, personalidades que fizeram as primeiras descobertas conhecidas sobre a doença. “Infelizmente, os tecidos das múmias que encontramos até hoje não chegaram até nós suficientemente preservados. Então, tudo o que sabemos sobre esse período são suposições a partir de sinais do que podem ter sido um tumores”, diz o especialista. O livro traça perfis daqueles que contribuíram para o avanço no diagnóstico e no combate à doença, e descreve os desafios científicos que enfrentaram em suas respectivas épocas. Com isso, ajuda a entender por que a doença se tornou a grande praga da modernidade. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o futuro do câncer, sua descrença na descoberta de uma cura universal e a simultânea esperança de que, em muitos casos, ele se torne uma doença crônica.
divulgação
Por que uma "biografia" do câncer?
Parece incrível, mas, apesar de a doença ser tão comum hoje, não houve interesse por parte de outros autores em escrever um livro a respeito de sua história. Eu comecei a escrevê-lo quando estava fazendo a residência em oncologia, em 2005, e uma paciente que tinha câncer de estômago me perguntou qual seria o futuro da doença - não a sua em particular, mas a doença em geral. Eu não tinha como responder a ela, e não tinha nada na literatura que esclarecesse adequadamente o contexto histórico do câncer.
Seu livro demonstra que, ao longo da história humana, o câncer não era apenas pouco conhecido, mas de fato raro. Por quê?
Se percorremos a história em busca de menções a doenças, descobrimos que muitos males com os quais ainda convivemos são mencionados em textos da Antiguidade. Isso não acontece com o câncer, e o motivo principal é que as pessoas não viviam o suficiente para que a doença se manifestasse de maneira significativa nas populações. A relação do câncer com a longevidade é direta. Quanto mais vivemos, maiores são os riscos de surgimento da doença. Para certos tipos de tumor, o risco aumenta de maneira exponencial. O mesmo ocorre, aliás, com o Alzheimer e outras demências. Há quem diga que a civilização e a modernidade aumentaram a incidência do câncer. De fato, a vida moderna nos pôs em contato com um número considerável de novos agentes carcinogênicos. Mas, se pesarmos tudo na balança, o motivo mais importante ainda é o fato de nos tornarmos cada vez mais longevos. Ao ampliar nosso horizonte de vida, a civilização não causou o câncer, mas permitiu que ele se manifestasse.
Mas o câncer infantil também é mais recorrente hoje. A leucemia, por exemplo, é mais comum em crianças. De fato, alguns tipos de câncer não têm vínculo com a velhice. Mas esses são tipos mais raros, a leucemia entre eles. A leucemia é muito menos comum, por exemplo, do que o câncer de mama, associado à velhice. Temos de levar em conta também a questão do diagnóstico. Os antigos eram tão familiarizados com a tuberculose que dispunham de várias palavras para descrever seus estágios e manifestações, mas muitas doenças que hoje classificamos como câncer não eram assim definidas no passado. A leucemia não em seria chamada de câncer, e isso pode influenciar diretamente na impressão que temos de que o número de casos está aumentando.
Mirian Silva
Qual foi o primeiro caso de câncer?
Não sei a resposta a essa pergunta. Esqueletos de hominídeos ancestrais têm sinais do que poderia ser um câncer, mas por ora são só indícios, não sabemos com certeza. Múmias que chegaram até nós também apresentam sinais de tumores, mas o estado dos tecidos não nos permite concluir nada. A descrição médica mais antiga de que se tem conhecimento data de 2500 a.C. e é atribuída ao sacerdote egípcio Imhotep. O documento que chegou até nós surpreende pela maneira objetiva como descreve 48 casos médicos. O caso 45 descreve uma "massa protuberante no seio" com riqueza de detalhes. Estamos, quase com certeza, diante do diagnóstico de um tumor de mama.
Como uma doença sem nome se transformou em câncer?
Hipócrates foi a primeira pessoa, até onde sabemos, a usar uma palavra similar a câncer e a começar a definir de fato a doença tal qual a conhecemos hoje. Foi ele quem concebeu a imagem de um tumor como uma espécie de caranguejo enterrado sob a pele. Mais uma vez, é bem provavel que olhasse para um câncer de mama. Seguindo a mesma visão, as veias sanguíneas ao redor do tumor seriam similares às pontas da carapaça e às patas do animal. Já para Hipócrates, o corpo humano era formado por quatro fluidos: bílis negra, bílis amarela, sangue e fleuma. O grego Cláudio Galeno, que acreditava nessa teoria, achava que o câncer era a exacerbação de um desses fluidos, a bílis negra. Essa associação pode ter surgido pela observação do melanoma. Essa associação entre o câncer e a bilis negra perdurou até o século XIX, que é o momento em que o estudo do câncer, patologicamente falando, se configurou de fato.
Por que se demorou tanto para entender o câncer?
Não tínhamos, e na verdade ainda não temos, a tecnologia necessária para compreender esa doença e tratá-la. A quimioterapia tem cerca de 50 anos. O estudo dos genes que causam o câncer ainda está na infância. E o que sabemos sobre química não basta para encontrarmos moléculas que ataquem as células cancerígenas sem devastar o corpo.
Por que ainda não há tratamentos mais eficientes do que a quimioterapia e a radioterapia?
Pelo motivo que acabo de mencionar. Para criar um tratamento mais eficiente, é preciso encontrar drogas que matem apenas as células cancerígenas e poupem as sadias. Esse é o real desafio. Neste momento, avanços muito significativos estão ocorrendo no tratamento de algumas formas de leucemia. Mas é muito, muito difícil desenvolver drogas assim.
O aparecimento dos antirretrovirais abriu um novo capítulo na história da aids, aumentando a sobrevida dos pacientes. O senhor imagina algo similar com o câncer?
Os pacientes com câncer hoje estão vivendo bem mais do que os pacientes com aids. É importante entender que o câncer não é uma doença, mas diversas doenças, sendo todas bem diferentes entre si. Para o futuro, acredito que o caminho é a descoberta de novas maneiras de prevenção ou, quando isso não for possível, de converter o câncer em doença crônica. Para muitos tipos, talvez simplesmente não seja possível encontrar a cura. Por que o câncer está intrinsecamente ligado ao processo biológico de reprodução das nossas células. Às vezes o processo de crescimento descontrolado das células que chamamos de câncer tem origem numa mutação causada por um agente cancerígeno, mas em muitas outras situações a causa parece ser uma mutação aleatória, ocorrida no processo normal de cópia de genes quando nossas células se reproduzem. Nossas células se dividem, envelhecemos, mutações se acumulam inexoravelmente sobre mutações e, nesse sentido, a longo prazo, talvez seja impossível desconectar o câncer de nossos corpos. Mas, se a morte é inevitável, morrer cedo não é. Para diversos outros tipos, será possível encontrar meios de tratamento que tornem a doença em um mal crônico, prolongando a vida do paciente em muitos anos. Talvez seja esse o significado de vencer a guerra contra o câncer.
Há muitas metáforas para falar do câncer, por exemplo, a que o descreve como praga. O senhor concorda com esse modo de falar?
O problema das metáforas, é que muitas vezes elas trazem um estigma para as pessoas atingidas pela doença. Mas, numa perspectiva histórica, faz sentido pensar no câncer dessa maneira. Se definirmos uma praga como uma doença com implicações biológicas, sociológicas, culturais e políticas, então o câncer se enquadra na categoria, da mesma forma como a peste negra ou a tuberculose ocuparam tal posição em séculos passados. Nos Estados Unidos, uma em cada três mulheres e um em cada dois homens terá um diagnóstico de câncer em suas vidas.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/cancer-livro-traca-historia-da-doenca-e-da-guerra-contra-ela
Considerado um dos melhores livros de 2010 na Inglaterra e nos Estados Unidos, 'O Imperador de Todos os Males' mostra por que a doença se tornou a mais emblemática dos nossos temposAretha Yarak
Inédito: o oncologista Siddhartha Mukherjee é o autor do primeiro livro com a biografia do câncer (Deborah Feingold)
"Para muitos tipos, provavelmente, não vai ser possível encontrar a cura, o que pode ser uma grande frustração para os que fazem disso uma obsessão. Mas, para diversos outros tipos, será possível encontrar meios de tratamento que tornem a doença em um mal crônico, prolongando a vida do paciente em muitos anos."
Em 2005, uma paciente com câncer no estômago perguntou ao médico Siddhartha Mukherjee, então residente em oncologia, qual era a origem e qual seria a evolução da doença. A questão deixou o jovem médico desconcertado. "Percebi que não tínhamos nada na literatura que esclarecesse adequadamente o contexto histórico do câncer", relembra Mukherjee, de 40 anos, indiano nascido em Nova Déli que mantém um ar de ator de Bollywood, a indústria de cinema indiana. A conversa com a paciente (ele não revela que destino ela teve) foi a principal inspiração para a criação do livro The Emperor of All Maladies (O Imperador de Todos os Males), que será lançado no Brasil em agosto, pela editora Companhia das Letras - depois de ser considerado um dos melhores lançamentos de 2010 nos Estados Unidos e na Inglaterra.
Em quase 500 páginas, Mukherjee, agora oncologista da respeitada Universidade de Columbia, traça o que ele chama de biografia da doença. Do período em que o câncer ainda não era conhecido como tal, surgem as figuras de Imhotep, Hipócrates e Heródoto, personalidades que fizeram as primeiras descobertas conhecidas sobre a doença. “Infelizmente, os tecidos das múmias que encontramos até hoje não chegaram até nós suficientemente preservados. Então, tudo o que sabemos sobre esse período são suposições a partir de sinais do que podem ter sido um tumores”, diz o especialista. O livro traça perfis daqueles que contribuíram para o avanço no diagnóstico e no combate à doença, e descreve os desafios científicos que enfrentaram em suas respectivas épocas. Com isso, ajuda a entender por que a doença se tornou a grande praga da modernidade. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o futuro do câncer, sua descrença na descoberta de uma cura universal e a simultânea esperança de que, em muitos casos, ele se torne uma doença crônica.
divulgação
Por que uma "biografia" do câncer?
Parece incrível, mas, apesar de a doença ser tão comum hoje, não houve interesse por parte de outros autores em escrever um livro a respeito de sua história. Eu comecei a escrevê-lo quando estava fazendo a residência em oncologia, em 2005, e uma paciente que tinha câncer de estômago me perguntou qual seria o futuro da doença - não a sua em particular, mas a doença em geral. Eu não tinha como responder a ela, e não tinha nada na literatura que esclarecesse adequadamente o contexto histórico do câncer.
Seu livro demonstra que, ao longo da história humana, o câncer não era apenas pouco conhecido, mas de fato raro. Por quê?
Se percorremos a história em busca de menções a doenças, descobrimos que muitos males com os quais ainda convivemos são mencionados em textos da Antiguidade. Isso não acontece com o câncer, e o motivo principal é que as pessoas não viviam o suficiente para que a doença se manifestasse de maneira significativa nas populações. A relação do câncer com a longevidade é direta. Quanto mais vivemos, maiores são os riscos de surgimento da doença. Para certos tipos de tumor, o risco aumenta de maneira exponencial. O mesmo ocorre, aliás, com o Alzheimer e outras demências. Há quem diga que a civilização e a modernidade aumentaram a incidência do câncer. De fato, a vida moderna nos pôs em contato com um número considerável de novos agentes carcinogênicos. Mas, se pesarmos tudo na balança, o motivo mais importante ainda é o fato de nos tornarmos cada vez mais longevos. Ao ampliar nosso horizonte de vida, a civilização não causou o câncer, mas permitiu que ele se manifestasse.
Mas o câncer infantil também é mais recorrente hoje. A leucemia, por exemplo, é mais comum em crianças. De fato, alguns tipos de câncer não têm vínculo com a velhice. Mas esses são tipos mais raros, a leucemia entre eles. A leucemia é muito menos comum, por exemplo, do que o câncer de mama, associado à velhice. Temos de levar em conta também a questão do diagnóstico. Os antigos eram tão familiarizados com a tuberculose que dispunham de várias palavras para descrever seus estágios e manifestações, mas muitas doenças que hoje classificamos como câncer não eram assim definidas no passado. A leucemia não em seria chamada de câncer, e isso pode influenciar diretamente na impressão que temos de que o número de casos está aumentando.
Mirian Silva
Qual foi o primeiro caso de câncer?
Não sei a resposta a essa pergunta. Esqueletos de hominídeos ancestrais têm sinais do que poderia ser um câncer, mas por ora são só indícios, não sabemos com certeza. Múmias que chegaram até nós também apresentam sinais de tumores, mas o estado dos tecidos não nos permite concluir nada. A descrição médica mais antiga de que se tem conhecimento data de 2500 a.C. e é atribuída ao sacerdote egípcio Imhotep. O documento que chegou até nós surpreende pela maneira objetiva como descreve 48 casos médicos. O caso 45 descreve uma "massa protuberante no seio" com riqueza de detalhes. Estamos, quase com certeza, diante do diagnóstico de um tumor de mama.
Como uma doença sem nome se transformou em câncer?
Hipócrates foi a primeira pessoa, até onde sabemos, a usar uma palavra similar a câncer e a começar a definir de fato a doença tal qual a conhecemos hoje. Foi ele quem concebeu a imagem de um tumor como uma espécie de caranguejo enterrado sob a pele. Mais uma vez, é bem provavel que olhasse para um câncer de mama. Seguindo a mesma visão, as veias sanguíneas ao redor do tumor seriam similares às pontas da carapaça e às patas do animal. Já para Hipócrates, o corpo humano era formado por quatro fluidos: bílis negra, bílis amarela, sangue e fleuma. O grego Cláudio Galeno, que acreditava nessa teoria, achava que o câncer era a exacerbação de um desses fluidos, a bílis negra. Essa associação pode ter surgido pela observação do melanoma. Essa associação entre o câncer e a bilis negra perdurou até o século XIX, que é o momento em que o estudo do câncer, patologicamente falando, se configurou de fato.
Por que se demorou tanto para entender o câncer?
Não tínhamos, e na verdade ainda não temos, a tecnologia necessária para compreender esa doença e tratá-la. A quimioterapia tem cerca de 50 anos. O estudo dos genes que causam o câncer ainda está na infância. E o que sabemos sobre química não basta para encontrarmos moléculas que ataquem as células cancerígenas sem devastar o corpo.
Por que ainda não há tratamentos mais eficientes do que a quimioterapia e a radioterapia?
Pelo motivo que acabo de mencionar. Para criar um tratamento mais eficiente, é preciso encontrar drogas que matem apenas as células cancerígenas e poupem as sadias. Esse é o real desafio. Neste momento, avanços muito significativos estão ocorrendo no tratamento de algumas formas de leucemia. Mas é muito, muito difícil desenvolver drogas assim.
O aparecimento dos antirretrovirais abriu um novo capítulo na história da aids, aumentando a sobrevida dos pacientes. O senhor imagina algo similar com o câncer?
Os pacientes com câncer hoje estão vivendo bem mais do que os pacientes com aids. É importante entender que o câncer não é uma doença, mas diversas doenças, sendo todas bem diferentes entre si. Para o futuro, acredito que o caminho é a descoberta de novas maneiras de prevenção ou, quando isso não for possível, de converter o câncer em doença crônica. Para muitos tipos, talvez simplesmente não seja possível encontrar a cura. Por que o câncer está intrinsecamente ligado ao processo biológico de reprodução das nossas células. Às vezes o processo de crescimento descontrolado das células que chamamos de câncer tem origem numa mutação causada por um agente cancerígeno, mas em muitas outras situações a causa parece ser uma mutação aleatória, ocorrida no processo normal de cópia de genes quando nossas células se reproduzem. Nossas células se dividem, envelhecemos, mutações se acumulam inexoravelmente sobre mutações e, nesse sentido, a longo prazo, talvez seja impossível desconectar o câncer de nossos corpos. Mas, se a morte é inevitável, morrer cedo não é. Para diversos outros tipos, será possível encontrar meios de tratamento que tornem a doença em um mal crônico, prolongando a vida do paciente em muitos anos. Talvez seja esse o significado de vencer a guerra contra o câncer.
Há muitas metáforas para falar do câncer, por exemplo, a que o descreve como praga. O senhor concorda com esse modo de falar?
O problema das metáforas, é que muitas vezes elas trazem um estigma para as pessoas atingidas pela doença. Mas, numa perspectiva histórica, faz sentido pensar no câncer dessa maneira. Se definirmos uma praga como uma doença com implicações biológicas, sociológicas, culturais e políticas, então o câncer se enquadra na categoria, da mesma forma como a peste negra ou a tuberculose ocuparam tal posição em séculos passados. Nos Estados Unidos, uma em cada três mulheres e um em cada dois homens terá um diagnóstico de câncer em suas vidas.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/cancer-livro-traca-historia-da-doenca-e-da-guerra-contra-ela
'Biópsia líquida', nova esperança contra o câncer
'Biópsia líquida', nova esperança contra o câncerGigante americana investe 30 milhões de dólares para aprimorar exame de sangue que pode detectar vários tipos de tumor
Marco Túlio Pires
O novo exame de sangue poderá se tornar um procedimento corriqueiro no futuro (Photoresearchers/Latinstock)
Desde a última última segunda-feira, está mais próximo o dia em que a biópsia, um exame invasivo e doloroso para detectar o câncer, fará parte do passado. Uma parceria entre uma empresa americana e o Hospital Geral de Massachusetts (EUA) prevê o investimento de 30 milhões de dólares para que um teste de sangue capaz de revelar uma célula cancerígena no meio de bilhões de outras saudáveis seja aperfeiçoado.
O novo exame de sangue surgiu em meio à explosão de novas técnicas de sequenciamento genético e análise de substâncias químicas, que começaram a aparecer nos últimos dez anos. O dispositivo desenvolvido pela equipe do médico americano Daniel Haber, diretor do centro de câncer do Hospital Geral de Massachusetts, consiste em uma placa do tamanho de um cartão de visitas com minúsculos bastonetes impregnados de anticorpos capazes de aprisionar uma única célula cancerígena. Depois de revelada, a célula presa recebe um brilho artificial para facilitar a análise dos médicos. Até o momento, a técnica pode detectar células de câncer de pulmão, mama, cólon, próstata e pâncreas.
Associated Press
Daniel Haber: 30 milhões de dólares para viabilizar novo exame de sangue
O método é capaz de detectar a presença de células doentes mesmo quando os sintomas clínicos do câncer ainda não se manifestaram. Isso quer dizer que o novo exame poderá prever casos da doença com muita antecedência, aumentando exponencialmente as chances de cura do paciente. “É uma espécie de biópsia líquida”, disse Haber.
Esperança — O chefe da pesquisa afirma que o novo exame, conhecido pela sigla CTC (células de tumor em trânsito, em inglês), não irá imediatamente substituir a biópsia — procedimento em que um pedaço de tecido é removido do corpo para análise em laboratório. “O CTC será primeiramente útil para os pacientes que já têm câncer. Será possível monitorar o andamento do tratamento”, disse Haber, em entrevista ao site de VEJA.
A médica americana Lecia Sequist, uma das autoras do estudo, afirmou que o exame poderá, no futuro, ajudar no diagnóstico do câncer que ainda não se manifestou. “Ainda falta muito para que o teste seja aplicado a grandes populações”, disse Lecia. Contudo, a nova parceria entre as instituições americanas permitirá que nos próximos anos a técnica seja estendida a outros tipos de câncer e que eventualmente cada oncologista tenha seu "kit de adaptação", capaz de detectar as várias manifestações da doença.
Mirian Silva
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/biopsia-liquida-nova-esperanca-contra-o-cancer
A cura está no doente, diz médico
Não é habitual ouvir um médico respeitável, de uma instituição de saúde modelar, falar sobre o papel da energia do corpo humano e da religião no caminho para a cura. É justamente o caso do cirurgião Paulo de Tarso Lima, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo. A medicina integrativa é uma prática em ascensão. Surgida nos Estados Unidos na década de 1970, une a medicina tradicional oriental, com sua abordagem holísitica, e a ocidental, apoiada na produção científica e na tecnologia. A reunião tem revolucionado a busca pela cura de doenças como o câncer. "A ideia não é excluir nada, mas juntar tudo e mostrar que a pessoa é detentora da capacidade de cura da própria doença", afirma Lima, que estudou a medicina interativa na Universidade do Arizona (EUA) e cursa o primeiro ano da Barbara Brenner School of Healing, na Flórida, onde a cura é perseguida a partir do estudo da energia humana. O médico é também autor do livro Medicina Integrativa - A Cura pelo Equilíbrio (MG Editores, 139 págs., 32,20 reais). Na entrevista a seguir, ele explica os fundamentos da medicina integrativa e aposta que a prática vai se espraiar por aqui por razões econômicas - por ora, apenas alguns hospitais e somente cinco universidades brasileiros se dedicam ao assunto.
Afinal, o que é medicina integrativa?É um movimento que surgiu nos Estados Unidos na década de 1970 e que começou a ser organizado com mais rigor na década de 1980, quando entrou para as faculdades de medicina. Hoje, existem 44 universidades americanas ligadas à pratica, que traz uma visão mais holística da pessoa no seu todo: corpo, mente e espírito. O que buscamos é oferecer uma assistência com informação e terapias que vão além da medicina convencional para ajudá-la a se conectar com a promoção de saúde. Eu não tenho a menor dúvida de que a medicina convencional é extremamente efetiva em se tratando de doença, mas saúde não é apenas ausência de doença.
Que terapias são essas? Sistemas tradicionais como a medicina chinesa e indiana nos oferecem uma gama de alternativas, como acupuntura, reiki, yoga, entre outras, que trabalham a energia do nosso corpo, estimulando uma reação aos sintomas das doenças. A ideia desse movimento não é excluir nada, mas juntar tudo e mostrar que a pessoa é detentora da capacidade de cura da própria doença. Isso é uma mudança de paradigma, porque a possibilidade de voltar ao estado saudável não é algo dado à pessoa, mas é algo inato a ela.
Qual a explicação para só agora a medicina integrativa despertar interesse de médicos convencionais?Há duas razões: a demanda dos pacientes e a produção acadêmica, que cresce a uma velocidade muito alta. Se entendemos como as coisas funcionam, sabemos que é seguro.
Qual a situação da prática no Brasil?Estamos em uma situação de dualidade. Os alinhados à prática muitas vezes não usam a medicina convencional de maneira integrada, e os convencionais não usam a medicina integrativa. Temos no Brasil um movimento diferente dos Estados Unidos, menos acadêmico, mas que vem crescendo graças a uma portaria de 2006 que autorizou procedimentos de acupuntura, homeopatia, uso de plantas medicinais e fitoterapias no Sistema Único de Saúde (SUS).
E por que a resistência dos médicos convencionais?Eu não entendo. Estamos falando de energia e não precisamos ir muito longe para provar que energia corporal existe. A partir do momento que temos uma mitocôndria que produz energia dentro de cada célula, e isso é ensinado no primeiro ano de medicina, não há o que discutir. Temos energia no corpo, e pronto. O curioso é que muitos exames hospitalares rotineiros são baseados em mensuração do campo energético do corpo, como a ressonância magnética, o eletroencefalograma e outros mais sofisticados. Mas se você falar para um neurologista sobre a manipulação da energia do corpo, ele pira.
Por quê?Porque entramos em um outro ponto da discussão sobre a energia humana, que é a interface com a religião. Estamos vivendo em uma nova fronteira em que se tenta entender essa energia, como ela é produzida, como pode ser manipulada e conduzida. E isso tem um impacto importante na questão da espiritualidade. Por isso, se algum paciente meu acha conforto na religião, se ele se sente bem assim, eu o estimulo a praticá-la.
E como se medem os resultados da medicina integrativa?Começamos a medir os resultados pelas questões econômicas. A Prefeitura de Campinas, em São Paulo, registrou uma redução substancial de uso de analgésico dentro do SUS ao oferecer terapias ligadas à medicina chinesa focadas na questão ósseo-muscular. Além disso, tem uma série de trabalhos acadêmicos ligados à genética provando que a qualidade de vida produz efeitos na expressão genética da doença. E uma nova fase de trabalho investiga se uma gestante, cujo feto apresenta uma expressão genética de determinada doença, pode ajudar seu bebê se tiver uma gestação muito cuidadosa.
Como isso seria possível?
O homem carrega no seu código genético informações de doenças que podem ser a causa de sua morte. Isso já é provado. Só que você pode ter a característica genética da doença e não desenvolvê-la, ou tê-la precocemente. Isso vai depender da qualidade da sua vida. Comer bem, respirar melhor, praticar atividades físicas, lúdicas e contemplativas são fatores muito importantes ligados à qualidade de vida e que vão provocar um impacto no nosso bem-estar e, consequentemente, na resposta do corpo às doenças já estabelecidas e àquelas que estão programadas para acontecer. O Prêmio Nobel do ano passado de Medicina (dividido entre os pesquisadores Elizabeth H. Blackburn, Carol W. Greider e Jack W. Szostak) mostra que, se há uma importante mudança nutricional e de práticas contemplativas, há uma diminuição da expressão de câncer de próstata em determinados grupos de homens.
As pessoas, em geral, estão mais abertas para as práticas alternativas?No Brasil, entre 45% e 80% dos pacientes diagnosticadas com câncer utilizam algum tipo terapia "alternativa" em conjunto com o tratamento. Nos Estados Unidos, 13% das crianças e 55% dos adultos saudáveis utilizam tais práticas.
O senhor acredita que essa corrente ganhará espaço no futuro?Acredito. Não por razões humanitárias, mas por uma questão econômica. Afinal, a forma como a medicina é praticada atualmente implica altos custos. Não posso prever, porém, quanto tempo isso vai demorar, porque o convencimento dos profissionais a respeito do assunto exigirá um longo trabalho.
http://veja.abril.com.br/noticia/saude/cura-esta-doente-paulo-tarso-lima-medicina-integrativa
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
domingo, 2 de janeiro de 2011
Roda da Vida
Ganhei este texto de um novo amigo muito especial e acredito que seja a melhor reflexão para começar 2011 com alegria e fé na vida.
"Que tal fazer agora o que sabia fazer quando veio ao mundo? Ser inocente o suficiente para acreditar que o mundo foi feito só para a gente brincar."
Talvez o grande criador o tenha feito em forma de bola e girando sem parar para parecer com uma grande roda gigante. Um dia, me peguei morrendo de medo de alguém querer acabar com minha brincadeira. Depois, descobri logo em seguida, que só mudam os brinquedos e as pessoas que brincam com a gente. Deste dia em diante nunca mais tive medo de arriscar em um novo brinquedo.
Sabe o que mais me impressiona nas novas brincadeiras que surgem? É que tem gente que apesar de ter vivido até mais tempo que eu, ainda acredita que exista alguma coisa realmente séria e previsível na vida. O Dono da Roda Gigante já me garantiu que por Ele esta brincadeira nunca vai terminar. É por isso que acredito que cada criança que nasce, vem para nos fazer lembrar que o Dono do Mundo nos deixou um importante recado:
- “Eu vos faço livres, inocentes e perfeitos ao colocá-los no mundo. Muitos de vocês vão se estragar durante o tempo que os deixo neste grande parque de diversões. Sem problemas, depois voltem que eu os concerto. Divirtam-se a vontade. Sem medo, pois a roda da vida é perfeita. ”
Ele não é dono só da Roda Gigante da Vida, mas de todo o Parque de Diversão. Às vezes, nos coloca dentro do trem fantasma. Ficamos aterrorizados, mas quando a cortina se abre percebemos que foi tudo planejado para nos ensinar a Divertir.
Um grande abraço do seu parceiro neste grande e maravilhoso Parque de Diversão.
(J.Ruy)”
Publicado por J Ruy em 24/02/2010 às 07h23
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (J.Ruy). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas
"Que tal fazer agora o que sabia fazer quando veio ao mundo? Ser inocente o suficiente para acreditar que o mundo foi feito só para a gente brincar."
Um grande abraço a todos!
Feliz Ano Novo!
Roda da VidaO tempo é sábio e vai mostrando os verdadeiros caminhos que devemos seguir, basta que tenhamos fé e coragem para continuar e conhecer o que ele tem a nos mostrar. Durante nossa existência vamos tendo experiências de acordo com os acertos e erros que cometemos.Destes encontros e desencontros vem o verdadeiro aprendizado. Conheço pessoas que juram nunca ter sofrido porque jamais se arriscaram. Para mim, são seres desinteressantes, incapazes de contar uma história com verdadeira emoção.
Neste nosso mundo, toda grande invenção vem acompanhada por um manual de como devemos utilizá-lo. O ser humano - a maior e mais complexa criação, não conhece nem mesmo as suas próprias instruções de uso e manutenção. É isto o que nos torna um verdadeiro milagre. Sem nos auto-conhecer, acabamos tentando decifrar o que existe nas outras pessoas. E, às vezes, chegamos ao ponto de ter a ousadia de dizer que a conhecemos.
Que tal fazer agora o que sabia fazer quando veio ao mundo? Ser inocente o suficiente para acreditar que o mundo foi feito só para a gente brincar.
Talvez o grande criador o tenha feito em forma de bola e girando sem parar para parecer com uma grande roda gigante. Um dia, me peguei morrendo de medo de alguém querer acabar com minha brincadeira. Depois, descobri logo em seguida, que só mudam os brinquedos e as pessoas que brincam com a gente. Deste dia em diante nunca mais tive medo de arriscar em um novo brinquedo.
Sabe o que mais me impressiona nas novas brincadeiras que surgem? É que tem gente que apesar de ter vivido até mais tempo que eu, ainda acredita que exista alguma coisa realmente séria e previsível na vida. O Dono da Roda Gigante já me garantiu que por Ele esta brincadeira nunca vai terminar. É por isso que acredito que cada criança que nasce, vem para nos fazer lembrar que o Dono do Mundo nos deixou um importante recado:
- “Eu vos faço livres, inocentes e perfeitos ao colocá-los no mundo. Muitos de vocês vão se estragar durante o tempo que os deixo neste grande parque de diversões. Sem problemas, depois voltem que eu os concerto. Divirtam-se a vontade. Sem medo, pois a roda da vida é perfeita. ”
Ele não é dono só da Roda Gigante da Vida, mas de todo o Parque de Diversão. Às vezes, nos coloca dentro do trem fantasma. Ficamos aterrorizados, mas quando a cortina se abre percebemos que foi tudo planejado para nos ensinar a Divertir.
Um grande abraço do seu parceiro neste grande e maravilhoso Parque de Diversão.
(J.Ruy)”
Publicado por J Ruy em 24/02/2010 às 07h23
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (J.Ruy). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas
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